OS CAMINHOS DO NATURALISMO EM FIGUEIRÓ DOS VINHOS. Casos e mistérios.
“Ao traçar o ambiente de Figueiró em finais do século XIX e inícios do XX, encontram-se ecos do naturalismo português nestas serranias com a presença dos naturalistas J. Malhoa e H. Pinto. Descobrem-se os amigos dos pintores, os modelos de muitas pinturas, um interesse focado na fotografia de aspetos paisagísticos, costume e retrato, mas também polémicas políticas, grupos intervenientes na economia da região e nas áreas culturais. Por um acaso feliz, decorrente da simpatia e colaboração de muitos figueiroenses contemporâneos, atentos aos fenómenos das redes sociais, e interessados na busca de um tempo perdido, consegue-se recuperar a memória de incidentes relacionados com a passagem de um advogado por Figueiró, retratado por J. Malhoa – este é o caso polémico, o caso deste funcionário da Conservatória do Registo Predial, Dr. Adalberto Pereira, “um negro que por sinal quer passar por branco”, acusara O União Figueiroense, de 1917. Tudo termina em 1921 quando se suicida por razões inexplicáveis. Mais tarde, em alusão às suas origens, o diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea, em 1961, Eduardo Malta, pretende adquirir esta pintura para o museu, num período político difícil, visto tratar-se do retrato de um advogado “de raça preta”, justificando assim a inexistência de racismo em Portugal...”
Maria de Aires Silveira